Pacote Fiscal: Quando a conta chega pros ricaços, eles começam a chiar
O governo propôs um pacote pra cobrar mais de quem ganha mais. Mas bastou mexer nos privilégios que os barões do agro, os bancos e os ricaços começaram a chiar. Eles gostam de cortar gasto, desde que não seja o deles. Tá na hora da conta bater na porta de quem sempre escapou.
16/06/2025 10h35Atualizado há 4 semanas
Por: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães
O pacote, na real, tenta fazer algo que há muito tempo era necessário: cobrar mais de quem tem mais. Uma das propostas mais importantes é taxar lucros e dividendos, coisa que o Brasil não faz desde 1996. Foto: Agência Brasil
Pra não dizer que não falei de imposto, vamos direto ao ponto: o governo apresentou um novo pacote fiscal e, como sempre, quem gritou primeiro foram os de cima — os barões do agro, os banqueiros de colarinho engomado e os políticos que só aparecem pra proteger essa turma. Quando o povo pobre aperta o cinto, dizem que é “sacrifício necessário”. Mas quando mexe no privilégio deles, o discurso muda rapidinho. Aí é “ameaça à economia”, “insegurança jurídica” e toda aquela ladainha que a gente já conhece.
O pacote, na real, tenta fazer algo que há muito tempo era necessário: cobrar mais de quem tem mais. Uma das propostas mais importantes é taxar lucros e dividendos, coisa que o Brasil não faz desde 1996. Isso mesmo, quase trinta anos que a elite vive recebendo dinheiro do lucro das empresas sem pagar um centavo de imposto. Enquanto isso, quem compra arroz, feijão, gás e sabão em pó paga imposto em tudo. Isso não é justiça, é sacanagem com a maioria do povo.
Outra proposta é mexer na tabela do imposto de renda. Hoje, muita gente que ganha pouco já tá pagando imposto, enquanto quem ganha mais de cinquenta mil por mês segue com benefícios. Com o novo pacote, quem ganha até cinco mil por mês vai ficar isento. E quem ganha acima disso, especialmente os super-ricos, vai pagar uma alíquota extra de dez por cento. É justo, né? Mas vai explicar isso pra quem vive de renda milionária e não quer abrir mão nem de uma lasca.
O governo também propôs limitar o reajuste real do salário mínimo a dois vírgula cinco por cento por ano acima da inflação. Isso aí já deu discussão, porque o povo trabalhador merece aumento digno, não só controle no papel. Mas também estão cortando em outras áreas onde sobra gordura: supersalários, penduricalhos de militares e mordomias de alto escalão. Tem também mudança nas emendas parlamentares, que muita gente usava como moeda de troca. É corte pra todo lado. Inclusive pros bancos, que vão pagar mais imposto. E até pros sites de aposta, os tais "bets", que agora também vão entrar na roda da arrecadação.
Agora, o mais engraçado foi ver certas figuras no Congresso querendo pagar de esperto. Teve até um deputado que ficou conhecido como “moleque chupetinha”, que fez pergunta atravessada pro ministro Haddad numa comissão e depois sumiu. O próprio ministro mandou a real: “fez a pergunta e fugiu”. Esse é o retrato de muita gente que não quer discutir política séria, só quer lacrar pra rede social e proteger os interesses dos de sempre.
E tem mais: o povo brasileiro, a imensa maioria, nem sabe o que é LCI, LCA, fundo exclusivo, debênture incentivada, offshore ou dividendo. Isso tudo é palavrão de rico. A galera vive do salário, do corre, da luta do dia a dia. Não tem aplicação milionária, nem conta em paraíso fiscal. Então, por que o sistema continua protegendo justamente quem joga com esse tipo de papel e escapa do imposto? É porque o jogo é feito pra eles. Mas agora o governo quer virar a mesa, e os engravatados já começaram a se coçar.
Esse povo que grita contra o pacote é o mesmo que vive dizendo que o Brasil tem que reduzir o Estado. Mas quando o corte bate na porta deles, aí é escândalo. Eles gostam de Estado mínimo só pros outros. Pro SUS, pra escola pública, pra moradia popular. Mas pra banco, latifúndio e gabinete, aí pode gastar à vontade. Falam em meritocracia com a mão no cofre público. Não dá mais.
O pacote fiscal não resolve tudo, mas é um começo. Um passo pra mudar essa lógica torta em que quem rala paga, e quem lucra foge. Chega de carregar o piano enquanto os mesmos de sempre tocam o samba de camarote, com tudo pago, com tudo garantido. Tá na hora da conta chegar pra quem sempre passou ileso. E se isso incomoda, é porque tá mexendo onde precisa.
*Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do ARENA DE NOTÍCIAS.
Sobre o autor: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães é Cientista Social, professor de sociologia, foi sindicalista e atuou por 16 anos na Câmara dos Deputados. Trabalhou no INEP, contribuindo com a educação pública, e foi diretor da Fundação de Assistência Social de Porto Alegre.
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