Bolsonaro falou demais e cavou a própria cova

Tem momentos em que o silêncio vale ouro. Mas Bolsonaro resolveu abrir a boca — e cavou a própria cova. No depoimento ao STF, falou tanto que escancarou tudo o que tentava esconder. Se tivesse ficado quieto, talvez ainda enganasse meia dúzia. Mas quis dar uma de esperto e acabou confirmando o que o Brasil todo já sabia: sim, teve tentativa de golpe.

Logo no início, admitiu que se reuniu com os chefes das Forças Armadas pra discutir a tal minuta do golpe. E mais: disse que o documento foi projetado numa televisão, como se estivessem escolhendo um plano de governo. Tentou tratar como reunião informal. Mas desde quando presidente da República faz reunião informal pra falar de ruptura institucional? Ainda mais dentro do Palácio?

A cereja do bolo foi quando tentou bancar o engraçadinho: convidou Alexandre de Moraes pra ser seu vice em 2026. Só esqueceu — ou fingiu esquecer — que está inelegível. Sim, inelegível, sem chance de disputar nem síndico de prédio. E, pelo andar da carruagem, o que vem pela frente é mais vara de Justiça do que palanque.

Mas Bolsonaro não parou por aí. Disse que “não havia clima” pro golpe mesmo nas quatro linhas. Ou seja: se tivesse clima, ele teria assinado. Confessou que só não avançou porque não teve apoio suficiente entre os militares e setores da sociedade civil. Não foi por ética, foi por falta de parceiro no crime. Simples assim.

E aí veio a parte mais cínica: chamou os próprios seguidores de malucos. Isso mesmo. Aqueles que passaram semanas acampados na frente de quartel, cantaram hino pra pneu, se penduraram na frente de caminhão, marcharam sem rumo e acreditam até hoje na tal “intervenção das 48 horas”. Uns ainda estão esperando essas benditas 48 horas chegarem desde 2022. E agora o próprio “mito” diz que eles são malucos. E ainda tem gente batendo continência...

No fim das contas, Bolsonaro quis transformar o STF no seu cercadinho. Mas lá não tem fã-clube, tem ministro com caneta. O que ele disse, o que tentou enrolar, e até o que deixou de dizer, reforça a acusação da PGR: houve uma tentativa de golpe, liderada por ele.

E se a Justiça brasileira fizer o mínimo, essa história não vai terminar em discurso. Vai terminar em sentença. Porque quem planta golpe, colhe cadeia.

*Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do ARENA DE NOTÍCIAS.

Sobre o autor: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães é Cientista Social, professor de sociologia, foi sindicalista e atuou por 16 anos na Câmara dos Deputados. Trabalhou no INEP, contribuindo com a educação pública, e foi diretor da Fundação de Assistência Social de Porto Alegre.