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SOCIEDADE

Maratona de Porto Alegre: a vida continua, mas a morte não pode ser banalizada

Hoje escrevo sobre como a sociedade tem se comportado nos dias atuais. Estamos vivendo um tempo em que parece que perdemos o sentido das coisas mais básicas, como o valor da vida e o respeito pela morte.

08/06/2025 19h36Atualizado há 1 semana
Por: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães
Jovem morre na maratona de Porto Alegre, A morte não pode ser banalizada. / Foto: reprodução internet
Jovem morre na maratona de Porto Alegre, A morte não pode ser banalizada. / Foto: reprodução internet

No último final de semana, durante a Maratona de Porto Alegre, um jovem morreu enquanto corria. E não foi um dia qualquer: era o aniversário dele. Ele tava lá, fazendo o que amava, cheio de energia, celebrando mais um ano de vida… e no meio do caminho, a vida dele se foi.

E o que aconteceu? Nada. A prova continuou normalmente. E o mais assustador: os participantes continuaram correndo como se nada tivesse acontecido. O corpo ali, no chão, estendido, coberto… algumas pessoas até olharam, mas seguiram. Como se fosse só mais um obstáculo na pista. Como se a morte tivesse virado algo comum, rotineiro.

Sim, a gente entende que um evento grande assim envolve estrutura, organização, segurança. Tem gente que viajou de longe, tem cronograma. Mas, sinceramente, será que isso justifica continuar como se nada tivesse ocorrido? Não dava pra parar por um minuto, fazer uma homenagem, mostrar que aquela vida importava?

Parece que estamos vivendo num tempo em que a pressa vale mais que o sentimento. A tecnologia aproximou o mundo, mas afastou o olhar humano. Tá todo mundo conectado, mas cada vez mais frio. A morte de alguém não comove mais — no máximo, vira um post, uma manchete, e logo depois já tem gente curtindo, comentando, seguindo a vida como se fosse “só mais uma”.

Aquele rapaz tinha família, tinha amigos, tinha sonhos. Morreu tentando se superar, no dia do próprio aniversário. E mesmo assim, foi tratado como se sua morte não tivesse peso. Isso é grave. Isso é triste. Isso diz muito sobre nós.

Sim, a vida continua. Mas a forma como ela continua diz muito sobre quem estamos nos tornando. A morte não pode ser tratada como uma interrupção incômoda de um evento. Ela precisa ser olhada com respeito. Com pausa. Com silêncio. Com humanidade.

Porque, se a gente segue correndo como se nada tivesse acontecido, talvez já tenha alguma coisa morrendo dentro da gente também.

 

  • *Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do ARENA DE NOTÍCIAS.

 

Sobre o autor: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães é Cientista Social, professor de sociologia, foi sindicalista e atuou por 16 anos na Câmara dos Deputados. Trabalhou no INEP, contribuindo com a educação pública, e foi diretor da Fundação de Assistência Social de Porto Alegre.

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