É hora do Brasil romper com Israel: Pela dignidade do povo Palestino
O massacre do povo palestino não é uma tragédia isolada, tampouco um episódio passageiro. Trata-se de uma violência sistemática, contínua e cada vez mais brutal. O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra — é um massacre.
07/06/2025 10h16
Por: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães
O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra — é um massacre./ Foto: Unicef/Abed Zagout
Volto a escrever sobre este tema, pois é recorrente. O massacre do povo palestino não é uma tragédia isolada, tampouco um episódio passageiro. Trata-se de uma violência sistemática, contínua e cada vez mais brutal. O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra — é um massacre. Guerra pressupõe dois lados com forças militares combatendo entre si. O que vemos é um Estado extremamente armado, com o respaldo das maiores potências do planeta, bombardeando indiscriminadamente uma população civil sitiada, sem acesso a água, comida, eletricidade ou refúgio. Trata-se de genocídio.
O presidente Lula não está sozinho quando denuncia esse horror. Ao afirmar que "o que Israel está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio", ele ecoa o clamor de milhões em todo o mundo. Sua comparação ao Holocausto pode chocar, mas é coerente com a lógica de extermínio que Israel vem impondo em Gaza. A resposta do governo israelense foi diplomática e politicamente arrogante, ao declarar o presidente do Brasil persona non grata — como se a verdade devesse ser silenciada para manter o conforto das potências ocidentais.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, até o fim de maio de 2025, mais de 36 mil palestinos foram mortos nos bombardeios israelenses, sendo mais de 15 mil crianças e mais de 10 mil mulheres. Um massacre de proporções inimagináveis, transmitido em tempo real para o mundo inteiro. E, no entanto, a máquina segue: tanques avançam, bombas caem, e a indiferença da comunidade internacional persiste.
Importante dizer: a figura de Benjamin Netanyahu não representa o conjunto do povo israelense. Há judeus, em Israel e no mundo inteiro, que denunciam a escalada de violência, protestam contra os ataques em Gaza e se solidarizam com os palestinos. O que está em curso é a política de um governo de extrema-direita, autoritário, que se sustenta pelo medo, pela militarização e pelo apartheid.
Também é preciso afirmar com clareza: não estamos negando os crimes cometidos pelo Hamas contra o povo de Israel. O ataque de 7 de outubro de 2023 foi brutal, com mortes de civis, sequestros e violações inaceitáveis do direito internacional. Toda vida importa. Mas um crime não justifica outro. E o que está em curso em Gaza é algo desproporcional, sistemático e criminoso em escala genocida.
A pergunta que se impõe agora é: basta apenas protestar? Ou o Brasil precisa tomar medidas concretas à altura da gravidade do momento histórico?
O rompimento das relações diplomáticas com Israel é uma necessidade ética e política. Não se trata de um ato impulsivo ou ideológico. Trata-se de coerência com os princípios que sempre nortearam a diplomacia brasileira: o respeito ao direito internacional, à autodeterminação dos povos e à defesa dos direitos humanos. Como podemos manter embaixadores e acordos com um Estado que ignora resoluções da ONU, bloqueia a entrada de ajuda humanitária e transforma hospitais, escolas e campos de refugiados em alvos militares?
É claro que haverá reação. Haverá pressão da bancada evangélica, dos Estados Unidos, da imprensa conservadora e dos interesses econômicos. Mas há momentos em que a dignidade de um povo não pode ser negociada em nome da conveniência diplomática. É preciso coragem para tomar uma posição clara. Coragem que o Brasil já demonstrou no passado ao enfrentar o apartheid na África do Sul ou ao defender a soberania latino-americana diante das imposições de Washington.
Romper relações com Israel é uma forma de dizer ao mundo que o Brasil não compactua com a barbárie. Que somos um país que respeita a vida, a justiça e o direito dos povos à liberdade. Que não aceitamos o massacre de crianças sob escombros como dano colateral da "segurança" de uma potência colonial.
O povo palestino resiste há mais de 75 anos. Está na hora de sermos mais que solidários. Está na hora de sermos consequentes.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do ARENA DE NOTÍCIAS.
Sobre o autor: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães é Cientista Social, professor de sociologia, foi sindicalista e atuou por 16 anos na Câmara dos Deputados. Trabalhou no INEP, contribuindo com a educação pública, e foi diretor da Fundação de Assistência Social de Porto Alegre.
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