Violência contra os invisíveis: a face mais cruel do Estado nas ruas de Florianópolis
Na noite de 12 de maio, por volta das 23h20, uma cena estarrecedora foi registrada em vídeo no centro de Florianópolis, sob a marquise do prédio do INSS, ao lado da Câmara Municipal. Policiais militares aparecem agredindo dois homens em situação de rua. Um dos agentes ateia fogo em pedaços de papelão e tenta atingir os pertences das vítimas, em meio à chuva e ao frio de 19 graus. As imagens revelam ainda empurrões e chutes.
13/05/2025 16h40Atualizado há 3 semanas
Por: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães
PMs agridem homens em situação de rua no centro de Florianópolis com fogo e chutes, como mostra vídeo divulgado pelo vereador Camasão. A cena expõe o fracasso dos governos. É urgente garantir acolhimento, saúde e dignidade. / Foto: reprodução
A denúncia, feita nas redes sociais do vereador Camasão (PSOL), causou revolta imediata e ganhou repercussão nacional. Figuras como o Padre Júlio Lancellotti, referência na defesa dos mais vulneráveis, se manifestaram. E não é para menos. O que se vê nas imagens é tortura — e não há outro nome possível para o ato de usar fogo e violência física contra pessoas que não têm nem onde dormir.
Mas o vídeo escancara também o fracasso das gestões municipal e estadual em lidar com a população em situação de rua. A ausência de políticas públicas estruturadas e humanizadas não é acidental. É uma escolha política — e, portanto, passível de denúncia e responsabilização.
É inaceitável que, em vez de assistência, essas pessoas recebam pancadas e labaredas. O que o Estado deveria oferecer são casas de acolhimento, abrigos noturnos seguros, atendimento em saúde física e mental, equipes de educação social de rua com formação multidisciplinar, e projetos de reinserção no trabalho e na vida comunitária.
Tratar com dignidade quem perdeu tudo é o mínimo que se espera de uma sociedade justa. E isso começa com a presença ativa e respeitosa do poder público, não com a bota de um policial pressionando o que restou da dignidade de alguém.
Não podemos aceitar que a resposta para a pobreza seja a violência. O papel constitucional da polícia é proteger, não torturar. Queimar papelão debaixo da chuva não é “cumprir ordem”, é desumanizar deliberadamente.
Que o vídeo seja mais que um escândalo momentâneo. Que seja o ponto de partida para investigações sérias, responsabilização exemplar e mudança real. E que sirva de alerta para todos nós: quando a dignidade humana é atacada, o silêncio também é cúmplice.
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Sobre o autor: Jorge Francisco de Oliveira Guimarães é Cientista Social, foi sindicalista, atuou por 16 anos na Câmara dos Deputados e foi diretor da Fundação de Assistência Social de Porto Alegre.
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