A realidade que se descortina nos encontros da elite financeira brasileira, muitas vezes apelidada de "Faria Lima" – uma referência à Avenida Brigadeiro Faria Lima em São Paulo, coração do mercado financeiro do país e metonímia para os interesses e a influência dos grandes banqueiros, investidores e especuladores no cenário político e econômico nacional (Investidor10, https://investidor10.com.br/conteudo/faria-limer-entenda-o-significado-do-termo-e-por-que-ele-ganhou-destaque-103721/) –, é um retrato cruel da nossa desigualdade. Não se trata de simples reuniões de negócios, mas de verdadeiros conluios onde o futuro do país é rifado em troca de lucros exorbitantes. Ali, entre taças de champanhe e discursos inflamados contra qualquer política de amparo social, o que se vê é um desprezo profundo por aqueles que, dia após dia, lutam para sobreviver com dignidade. Para essa casta privilegiada, programas como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) não passam de um fardo, um obstáculo ao enriquecimento desenfreado, ignorando a rede de proteção mínima que representam para milhões de famílias. Como observado em análises críticas, para essa elite, "o problema do Brasil nunca está no topo da pirâmide, mas sempre na base" (TheIncorrupt_, X, https://x.com/TheIncorrupt_/status/1912176295229764074), uma visão que convenientemente isenta os verdadeiros detentores do poder de qualquer responsabilidade pela crise social.
É estarrecedor observar a naturalidade com que se defende a dilapidação do patrimônio público. A obsessão em privatizar empresas estatais estratégicas, como a Petrobras e o Banco do Brasil, revela uma visão tacanha e entreguista, que enxerga o Estado não como um instrumento de desenvolvimento e soberania, mas como um balcão de negócios. A ex-presidente da Caixa Econômica Federal, alinhada ao bolsonarismo e ladeada por figuras como Ciro Nogueira, personifica essa mentalidade ao criticar o número de estatais brasileiras, convenientemente esquecendo que muitas delas são cruciais para a prestação de serviços essenciais e para a manutenção da nossa autonomia em setores vitais. Ignora-se, ou finge-se ignorar, que empresas como Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal não são meros números em uma planilha de lucros e perdas; são pilares do desenvolvimento nacional, indutoras de políticas públicas, garantidoras de crédito acessível e fomento à pesquisa e inovação. Dados recentes demonstram a vitalidade dessas empresas: "Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal foram responsáveis por R$ 170 bilhões desse lucro [das estatais em 2023]" (CMP Brasil, https://cmpbrasil.org/2024/09/11/folha-de-s-paulo-utiliza-fake-news-para-defender-privatizacao-da-petrobras-caixa-e-banco-do-brasil/), e "As estatais brasileiras tiveram lucros somados de R$ 197 bi em 2023, dos quais R$ 49 bi foram para a União na forma de dividendos" (PT.org.br, https://pt.org.br/a-servico-do-entreguismo-folha-quer-tirar-petrobras-caixa-e-bb-do-povo-brasileiro/).
Privatizações passadas, como a da Vale do Rio Doce, resultaram em perda de controle estratégico sobre recursos naturais, demissões em massa e aumento de tarifas para a população, um legado amargo que serve de alerta contra a sanha privatista que ressurge com força. Essa postura reflete uma tendência mais ampla, onde, como aponta Luís Nassif, "os bancos passaram a dominar a opinião pública" (Jornal GGN, https://jornalggn.com.br/coluna-economica/luis-nassif-as-semelhancas-entre-terraplanistas-e-os-faria-limers/), moldando a narrativa em favor de seus interesses privatistas.
Contudo, a história não precisa seguir um roteiro único de espoliação do patrimônio público. Existem alternativas concretas que demonstram o potencial de um Estado forte e atuante na gestão de seus recursos estratégicos. A Noruega, por exemplo, é um caso emblemático de sucesso no controle estatal do petróleo. Ao invés de entregar suas vastas reservas a interesses privados, o país optou por uma gestão soberana, criando um gigantesco fundo soberano que hoje financia o bem-estar de sua população e garante a prosperidade para as futuras gerações (Wikipedia, https://pt.wikipedia.org/wiki/Economia_da_Noruega; Jacobin Brasil, https://jacobin.com.br/2019/10/o-segredo-por-tras-da-riqueza-norueguesa/). Esse modelo prova que é possível conciliar desenvolvimento econômico com justiça social, desde que o interesse público prevaleça sobre a cobiça de poucos.
O cinismo atinge o ápice quando figuras como Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro, são aclamadas como a solução messiânica, o “plano A” incontestável dessa elite. A eleição de 2026 já é dada como favas contadas, uma vitória antecipada da extrema-direita, celebrada com escárnio e desdém pela democracia, pelos eleitores e, principalmente, pela miséria que assola grande parte da população. É um arranjo preocupante, costurado à revelia do povo, sem qualquer consulta popular ou projeto de nação que vá além dos interesses de um grupo restrito e insensível, um verdadeiro "Projeto T" como denunciado pela Associação Brasileira de Jornalistas (https://www.assbrasiljornalistas.org/a-elite-financeira-e-seu-fatidico-projeto-t/).
Esses encontros, longe de serem inofensivos, são a manifestação explícita de uma mentalidade que, como bem denunciou Jessé Souza em "A Elite do Atraso", teme a ascensão social e trabalha incansavelmente para perpetuar um sistema de privilégios. O que se testemunha não é um debate de ideias, mas a consolidação de uma estratégia de dominação que visa manter o Brasil como um país de poucos, para poucos. A chaga da pobreza, nesse contexto, não é vista como um problema a ser combatido, mas como uma consequência natural, quase desejável, de um sistema que os beneficia. O próprio presidente Lula já alertou sobre a necessidade de não ouvir "só a Faria Lima" (O Globo, https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/09/25/nao-precisa-ouvir-so-a-faria-lima-diz-lula-a-agencias-de-classificacao-de-risco-em-ny.ghtml), um apelo à diversificação das vozes na construção das políticas econômicas do país.
E é nesse ponto que a hipocrisia se torna ainda mais flagrante. Enquanto aqueles que ousam defender os direitos da classe trabalhadora são sistematicamente demonizados pela grande imprensa, transformados em bodes expiatórios de todos os males do país, os verdadeiros arquitetos da miséria, os financiados por conglomerados econômicos insaciáveis, desfilam impunes, blindados por uma mídia complacente. As práticas predatórias desses grupos, que corroem o tecido social e aprofundam as desigualdades, raramente são alvo de críticas contundentes ou condenações públicas veementes. A reforma trabalhista, vendida como panaceia para a modernização das relações de trabalho, escancarou essa dinâmica: em vez de gerar os empregos prometidos, aprofundou a precarização. Concretamente, vimos a proliferação do trabalho intermitente – aquele em que o trabalhador fica à disposição, mas só recebe pelas horas efetivamente trabalhadas, gerando instabilidade e insegurança (Nexo Jornal, https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/04/21/o-que-da-e-o-que-nao-da-para-concluir-sobre-a-reforma-trabalhista) –, o enfraquecimento do poder de negociação dos sindicatos, que não são mais necessários para homologar rescisões (Projuris, https://www.projuris.com.br/blog/reforma-trabalhista/), e um aumento da informalidade e da insegurança jurídica, como apontado pelo SINAIT (https://www.sinait.org.br/noticia/16066/sinait-aponta-impactos-sociais-negativos-causados-pela-reforma-trabalhista). A mídia, em grande parte, preferiu destacar os supostos benefícios para o "mercado", relegando a segundo plano as perdas de direitos e o aumento da vulnerabilidade dos trabalhadores. Cria-se, assim, uma narrativa perversa que localiza a corrupção e a ineficiência exclusivamente no campo da Esquerda, absolvendo convenientemente aqueles que lucram com a manutenção do status quo.
Essa seletividade vergonhosa da cobertura jornalística não é mera coincidência, mas um projeto deliberado de manipulação da opinião pública. O objetivo é claro: deslegitimar qualquer voz que se levante contra os interesses do capital e pavimentar o caminho para políticas que aprofundem ainda mais a exploração e a concentração de renda. Como aponta o portal Cultura e Mercado, "A pauta e as demandas dos grandes grupos empresariais colide, por moral e princípio, com os movimentos libertadores" (Cultura e Mercado, https://culturaemercado.com.br/o-governo-lula-e-o-fantasma-do-cerceamento-da-kiberdade-de-imprensa/amp/), deixando claro o conflito de interesses que permeia a relação entre a mídia hegemônica e os defensores de uma sociedade mais justa. A quem serve essa imprensa que silencia diante dos desmandos da elite e crucifica os defensores do povo? A resposta, infelizmente, é óbvia demais.
O cenário que se desenha para 2026 é alarmante e exige uma tomada de consciência urgente. Não se iludam: a batalha que se avizinha não será uma mera disputa partidária, mas um confronto direto entre a Direita e a extrema-direita, irmanadas na defesa intransigente dos privilégios do capital, contra o povo brasileiro e aqueles que, com bravura e resiliência, insistem em defender os interesses de uma classe trabalhadora historicamente massacrada. Estaremos diante de uma encruzilhada decisiva, onde o futuro da nossa nação e a dignidade de milhões estarão em jogo. A elite, que hoje brinda em seus salões suntuosos, já escolheu seu lado e seus candidatos, e não medirá esforços para impor sua agenda de retrocessos. A própria discussão sobre "quem manda no Banco Central do Brasil", com acusações de que seria a "Faria Lima" (Jornal Taguacei, https://jornaltaguacei.com.br/noticias/20/09/2024/quem-manda-do-banco-central-do-brasil-e-a-faria-lima-diz-ex-governador-do-df-agnelo-queiroz-ao-criticar-a-elevacao-da-taxa-selic-aumento-025/), já antecipa o tipo de debate e as forças em disputa para o próximo ciclo eleitoral, onde a autonomia das instituições e os rumos da política econômica estarão no centro das atenções.
É fundamental que a sociedade civil organizada, os movimentos sociais, os sindicatos e cada cidadão consciente do seu papel histórico estejam preparados para essa luta. Será preciso desmascarar as falsas promessas, denunciar as manobras sórdidas e construir uma frente ampla em defesa da democracia, da justiça social e da soberania popular. A apatia e a neutralidade, neste momento crucial, são cúmplices do projeto de destruição que nos ameaça. O Brasil precisa resistir, com a força da união e a clareza de que um outro futuro, mais justo e solidário, é não apenas possível, mas imprescindível. A crescente judicialização, com "Quatro milhões de novas reclamações trabalhistas foram propostas em 2023" (Conjur, https://www.conjur.com.br/2024-dez-08/novas-legislacoes-redefinem-relacoes-entre-empresas-e-trabalhadores/), demonstra a tensão existente e a necessidade de proteger os direitos conquistados, que certamente estarão sob ataque no debate eleitoral vindouro.
Sobre o autor:
Luiz Cláudio Cavalcante é servidor público estadual e jornalista com ampla experiência na comunicação institucional e política. Especialista em estratégias de comunicação para redes sociais, também atua como produtor audiovisual, desenvolvendo conteúdos que aliam criatividade, técnica e impacto social.
Com passagens pela assessoria parlamentar, carrega uma trajetória marcada pela defesa do serviço público e pela valorização da comunicação transparente e de qualidade. Atualmente, integra a executiva do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás, onde se dedica à luta por melhores condições de trabalho para a categoria e ao fortalecimento do jornalismo ético e responsável.
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