No palco da política paulista, o governador Tarcísio de Freitas entregou recentemente uma performance digna de nota. Com um toque dramático, confessou: "Eu admito, estava errado. Eu me enganei, e não tem nenhum problema eu chegar aqui e dizer para vocês que eu me enganei, que tinha uma visão equivocada sobre a importância das câmeras". Essa declaração poderia ser um marco de honestidade, não fosse o timing perfeitamente calculado após semanas de violentas interações policiais capturadas justamente pelas câmeras que ele tanto desprezava.
Agora, diante das evidências incontestáveis, quem seria tolo o suficiente para acreditar na sinceridade de tal arrependimento? Certamente, existem aqueles crédulos o suficiente para comprar essa reviravolta no discurso, tão conveniente quanto uma promoção de Black Friday. E, como esperado, partes da imprensa, sedentas por boas histórias, já se apressam em vender a ideia de uma genuína mudança de coração. Mas, deixemos a ingenuidade de lado; arrependimento genuíno não é o que estamos presenciando.
Durante sua campanha e subsequente mandato, Freitas foi um crítico ferrenho do uso de câmeras corporais, mantendo-se firme mesmo diante de críticas e flagrantes de abusos. Sua fé inabalável nos policiais militares persistiu até que as câmeras, aquelas mesmas que ele tanto criticou, começassem a contar uma história muito diferente da narrativa oficial.
Diante da repercussão negativa das últimas ações violentas, somos levados a crer, contra nossa melhor intuição, que o governador está arrependido. Mas, permita-me usar um velho ditado popular apropriado para essa situação: "Agora vai se fazer de Madalena arrependida?" Claro, sem ofensa às Madalenas que realmente se arrependem.
Finalizando, se o governador deseja mesmo demonstrar sinceridade, poderia começar garantindo que as forças policiais sigam à risca as leis que juraram proteger. Sem mais jogar pessoas de pontes, sem tiros pelas costas, sem câmeras desligadas e sem falsificações nos registros policiais. Até lá, seu pedido de desculpas soará tão convincente quanto uma nota de três reais.
Sobre o autor: Luiz Cláudio Cavalcante é servidor público, especialista em comunicação em redes sociais e assessor parlamentar. Jornalista e produtor audiovisual, ele também é membro da executiva do Sindicato dos Jornalistas de Goiás, onde atua na defesa dos direitos da categoria e na promoção de uma comunicação de qualidade.